
Egressa da Faculdade de Letras lança livro e compartilha trajetória em roda de conversa
A professora Tálita Serafim Azevedo, egressa da Faculdade de Letras da UFG, lançou recentemente seu livro “Acende a Luz” e participou de uma roda de conversa no campus, onde compartilhou sua experiência como docente com cegueira e sua trajetória acadêmica
Tálita Azevedo, Tânia Rezende e Candice Marques estão sentadas atrás de uma mesa de madeira no miniauditório da Faculdade de Letras. À esquerda, Tânia, de pele negra, cabelos castanhos presos, óculos, veste uma blusa laranja. Ela sorri, olhando para frente, com as mãos apoiadas sobre a mesa. Ao centro, Tálita, de pele negra, cabelos curtos e cacheados, veste uma camisa preta. Ela sorri e segura um microfone próximo à boca, transmitindo uma expressão alegre e confiante. À direita, Candice, de pele branca e cabelos presos, veste uma blusa estampada em tons de verde e azul. Ela usa óculos de armação fina, brincos e colares. Sorri levemente, com as mãos entrelaçadas à frente do corpo. Ao fundo, a parede tem um revestimento acolchoado em tom marrom-acinzentado, e à direita há parte de uma tela branca de projeção.
No dia 19 de agosto, a Faculdade de Letras foi contemplada com uma Roda de Conversa com Tálita Serafim Azevedo. Além de professora e escritora, é atriz e cantora. O evento foi produto de uma ação de extensão coordenada pela professora Candice Marques, que orientou a egressa em seu trabalho de conclusão de curso. O encontro foi uma oportunidade para que Tálita, uma mulher negra com cegueira, pudesse divulgar seu trabalho, compartilhar a sua trajetória e inspirar o público. A roda foi mediada pela professora Tânia Rezende.
O evento foi marcado pelo lançamento do primeiro livro de Tálita, intitulado “Acende a Luz, Crônicas da minha vida”. A obra traz relatos autobiográficos da autora, desde as suas origens, passando por vários ciclos até as experiências na universidade. Na resenha publicada pela professora Candice para o Jornal Opção, ela relata o seu primeiro contato com a obra:
“Logo que tive acesso ao livro, já percebi que estava diante da Tálita, de sua escrita, mas especialmente, de uma escrita que não tem medo de contar sobre sua vida. Tálita não apenas escreve crônicas de sua história, mas nos conta os detalhes sofridos pelos quais passou. Entretanto, o que mais me comoveu na história, foi o tom leve para narrar situações difíceis”.
Filha de baianos, que se mudaram para Goiânia antes de seu nascimento, Tálita foi acometida, aos dois anos de idade, de câncer no olho esquerdo. Cerca de um ano depois, o câncer atingiu o olho direito. Ela fez o tratamento quimioterápico e venceu o tumor, embora a batalha contra a doença tenha lhe custado a visão. Ao falar sobre a infância, no entanto, Tálita salienta momentos felizes e destaca o papel da sua família no esforço de fazê-la se sentir incluída.
“Os meus irmãos sempre saíam para brincar e me levavam junto para brincar também. A minha mãe sempre me ensinou as coisas com muita naturalidade, me ensinou a cuidar de mim, cuidar da casa, tomar banho, lavar a louça, dobrar uma coberta… a única diferença era que comigo ela mostrava as coisas com as mãos”.
A autora reforça o apoio familiar ao mencionar seu contato com as artes. Antes de completar 10 anos, já tinha dois CDs musicais gravados em estúdio. Além disso, Tálita relata uma forte presença da literatura na infância, o que a incentivou a escrever poemas, músicas e, mais tarde, crônicas. Ao sair do seio da família e entrar em contato com os colegas da escola foi quando percebeu que era tratada com alguma diferença. Nessa época, recebeu, pela primeira vez, o conselho de uma professora para escrever um livro, uma ideia que foi trabalhada durante anos até seu amadurecimento na graduação e, posteriormente, no mestrado.
“Quando eu tomei a decisão de escrever um livro, foi num momento em que eu precisava canalizar. Foi um momento muito doloroso e a forma que encontrei para me refugiar foi acessando tudo que aconteceu comigo, tanto conquistas como feridas. Canalizei tudo através da escrita, comecei a escrever e não parei mais. Assim, eu terminei o livro”.
Sobre uma mesa coberta por uma toalha branca com estampas discretas, está exposto um conjunto dos livros de Tálita. A capa é predominantemente em tons de laranja e vermelho, com uma ilustração central: uma silhueta feminina de cabelos crespos, de perfil, está de pé de frente ao próprio reflexo no espelho. A imagem sugere uma relação de memória ou reflexão pessoal. Na frente da pilha de livros, há uma caneta verde e branca apoiada sobre a toalha. Ao lado esquerdo, um pequeno arranjo de flores artificiais em uma caixa de madeira, além de um recipiente com sachês. Ao fundo, num mural branco, estão fixados cartazes que divulgam o livro.
Candice, na mesma resenha para o Jornal Opção, faz uma comparação entre a escrita de Tálita e a escrita da ruandesa Scholastique Mukasonga. De acordo com a professora, o encontro entre as duas escritoras está na leveza dos relatos.
“Scholastique Mukasonga conta as histórias de sua família e o genocídio que os tutsis sofreram pelos hutus, incentivados por europeus na década de 1990. Pois bem, onde é possível observar a relação entre a escrita da escritora ruandesa e da escritora goiana? Justamente na maneira leve de escrever situações de sofrimento. Ambas narram suas histórias de maneiras possíveis de serem lidas”.
A roda de conversa serviu como espaço de debate sobre acessibilidade no Ensino Superior, ressaltando a importância de políticas inclusivas e de iniciativas que garantam oportunidades a todos. Nesse sentido, a participação de técnicos da Secretaria de Acessibilidade da Secretaria de Inclusão (SIN/UFG), foi crucial, enriquecendo o debate com a realidade vivenciada na rotina dos participantes, sendo eles discentes, professores e técnicos-administrativoso de outros setores da universidade.
Tálita também realizou uma sessão de autógrafos no hall do bloco Bernardo Élis, com venda simultânea de exemplares de “Acende a Luz”.
Em um ambiente interno claro, acontece o momento de autógrafos do livro Ascende a Luz – Crônicas da minha vida. No centro da imagem, Tálita, de pele negra e cabelos curtos e cacheados, vestindo blusa preta, está sentada à mesa autografando um exemplar do livro com uma caneta verde. Sua postura é concentrada, com a cabeça levemente inclinada para baixo enquanto escreve. À esquerda dela, em pé, está a sua mãe de pele clara, cabelos grisalhos com mechas arroxeadas e longos, presos com uma tiara preta. Ela veste um vestido azul esverdeado de mangas curtas e tecido rendado, e apoia uma das mãos sobre o ombro da autora, em gesto de apoio e carinho. A mesa está coberta com toalha branca de estampa discreta. Sobre ela há um arranjo de plantas artificiais em um vaso de madeira e uma pequena lanterna decorativa. Ao fundo, pendurados no mural branco, há cartazes de divulgação do livro.
Para adquirir um exemplar do livro de Tálita, basta contactá-la diretamente em seu perfil no Instagram (@_azevedotalita_). No futuro, a autora sonha que “Acende a Luz” possa estar nas prateleiras das livrarias de todo o país.
Redação e fotos: Amanda Shelps
Fonte: ASCOM/FL
Categorias: Lançamentos Egressa Cegueira